Creio que todos concordamos que nenhum dos tipos de património é mais metódica e empiricamente analisado que o património natural, tanto que o encontro que referi no inicio do meu email, foi feito entre as secções de Educação, a Ciência e a Cultura, sendo ciência a óbvia representante do património natural, já que as duas estão estritamente ligadas, seguramente tanto ou possivelmente mais do que com o património histórico.
Então a questão coloca-se, se é metódica e cientificamente analisada, porque é que não é metódica e cientificamente catalogada e divulgada?
Se eu quiser saber qual a fauna e flora de determinada localidade ( Informação que "por acaso" é não só "interessante" como útil em termos de gestão), mesmo que seja de um determinado parque ou reserva natural, será que terei acesso a essa informação? Essa informação existe? Embora números e listas estejam disponíveis, será que são realistas?
Porque se não são, então que biodiversidade estamos nós a proteger?
Se uma infraestrutura após ter sido iniciada, danifica património histórico, esta não é desviada, ou medidas não são tomadas para preservar esse património? Porque razão o mesmo não acontece quando se torna claro que a sua edificação implica o abate de árvores endémicas, mata centenas se não milhares de membros protegidos da nosso fauna e destrói irremediavelmente habitats considerados prioritários?
O que me recorda o castelo da minha terra natal, Pombal, eu não receio que os meus filhos não tenham oportunidade de conhecer as suas muralhas, poços e torre de menagem, estará nessa altura possivelmente tão intacto como estava quando o seu bisavô colaborou na sua preservação na década de 40 (acto relembrado em placa epigráfica num silhar da parede), o que eu receio é que nunca venham a adormecer a ouvir os grilos e ralos, que não tenham a oportunidade de perseguir um das centenas de pobres pirilampos que se juntavam naqueles arbustos, ou de acordar com a parafernália de aves que pousavam nos ramos mesmo em frente ao meu quarto. Há anos que não vejo ou oiço nenhum desses animais, já não encontro ouriços-cacheiros, salamandras-amarelas, sapos-comuns, tritão-de-ventre-laranja nem os pica-paus que tipicamente nidificavam por ali, o que só parece ter vindo a piorar com as obras de requalificação, cimentaram as antigas escadas e enchem as plantas e casas de pó, fazendo adoecer a população envelhecida que ainda ali resiste e assustando possíveis novos moradores. Tudo isso para betonar uma mata e nem sequer aumentarem o tamanho da rua.
Volto assim ao tema da minha primeira mensagem e à definição do termo património, como aquilo que nos é legado pelos nossos antepassados, o que me trás à memória o provérbio chinês, nós não herdamos o mundo dos nossos antepassados, apenas o pedimos emprestado aos nossos filhos, e uma adulteração pessoal de um outro ditado. muito se fala em deixar melhores filhos para o planeta, quando se pensará em deixar um melhor planeta para os nossos filhos.
Não pretendo com esta mensagem censurar o esforço feito em preservar o nosso património cultural, que muito estimo e incentivo a conhecer. A minha questão prende-se com a liberdade de deixar mais do esse património à próxima geração.
Se o património é o que nos é legado, que liberdade tenho eu de escolher o que legar aos meus filhos?
O que eles me emprestaram, não me foi dada a liberdade de preservar. Onde está a minha liberdade patrimonial?
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